sexta-feira, 25 de outubro de 2013

CONGRESSO DA PASTORAL FAMILIAR (2)

Trazemos agora aos amigos internautas, a segunda palestra do Congresso 2013, com o Padre Antônio José, pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Rainha de Todos os Santos, no Vicariato Norte.




Pistas para fazer uma Revolução (Pe. Antonio José)
O Papa Francisco, no sábado, na vigília do jovens, usou a seguinte expressão: É preciso que vocês vão para o ataque! Isto me faz lembrar um time de futebol que pode ter dois tipos de postura: ou fica na defensiva ou avança para o gol. O papa “deu o toque no meio de campo” e jogou a bola para os nosso pés, e agora é nossa tarefa irmos adiante. Agora a bola é nossa.
Ninguém faz uma revolução só com bons propósitos, é precisos persistência, perseverança e compromisso. É preciso além dos bons desejos muito envolvimento. Nada de brigas, mas constância e persuasão de amor, uma insistência no próprio compromisso com Deus.
Na homilia do Santo Padre na Missa de envio da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013 lemos:
“Venerados e amados Irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos jovens!
«Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais». Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir.”
Ide - sem medo - para servir. Nossa tarefa é sermos o binômio do cristão: sermos discípulos missionários. Só assim se vivem estas três palavras. Que dicas elas nos dão! E o papa continua em sua homilia:
“Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9).”
O papa repete o mandato de Jesus antes de voltar para o Pai em sua ascensão. Assim medimos o valor nas ultimas palavras do Senhor: “Ide por todo mundo anuncia o evangelhos a toda criatura... eu estarei com vocês até o fim dos tempos.” Muitas coisas são importantes mas se há algo que Jesus espera de nós é que conjuguemos o verbo IDE, da família do “mexa-se, anda, acorda, não fique parado, mova-se!”. Nos preocupamos com tantos detalhes e nos perdemos no principal. Jesus espera isso de mim e de você. Espera que vamos ao encontro daqueles que ainda não o conhecem. E esse movimento deve começar na nossa casa. Muitas coisas aprendi com meus pais não porque eles disseram, mas porque faziam. Meu pai nunca me disse para ter responsabilidade com os trabalhos era algo importante, porque eu via isso com ele, cumprindo seus compromissos. Vi o quanto eles eram ativos para gravarem a fé em nossos corações, eu via minha mãe rezando e assim eu aprendi a importância de rezar. Minha catequista teve muito pouco trabalho, pois as coisas da fé eu aprendi quase tudo em casa... Esse “ide”, deve começar na família da gente, ensinado as pessoas a serem homens e mulheres de Deus. Ide a outras famílias próximas que não terão talvez outra oportunidade de evangelização. Você tem ido às pessoas ou espera só por quem vem até você? Evangelização tem que se pra gente um estilo de vida, temos que aproveita todas as oportunidades! É uma pena quando os cristãos são seres invisíveis e sua presença não é notada a não se RNA Igreja. Há uma expressão que Jesus usa para explicar quem ele é e quem nós devemos ser: LUZ DO MUNDO. Aos olhos do Nosso Senhor, nós somos essa luz que deve brilhar no mundo. Você é luz do mundo onde Deus te acendeu: na sua família, no seu prédio, na sua comunidade, no seu ambiente de trabalho...
     Nós somos o corpo de Cristo aqui na terra. Qual é a diferença entre o corpo vivo e o corpo morto. O corpo morto não se mexe. O corpo vivo se mexe é dinâmico e saudável. Não sei como vai ser o dia em que o Senhor nos chamar para junto dele, mas duas coisas devem estar no alto da lista: “O que fez você com o seu tempo que poderia ser utilizado para oração? Você obedeceu ao meu ide”?. O mais é secundário, não podemos deixar que eles tomem o lugar do que é primordial. Ide.
“Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor.”
Penúltima frase: não somos escravos, mas amigos. Na obra de Deus o Senhor não conta com escravos, mas com amigos. É com amigos que ele divide das duas grandes paixões do seu coração: a vontade do Pai, e nós. Por essas duas paixões ele deu tudo e se deu por inteiro. O verdadeiro evangelizador é amigo de Jesus e não um funcionário que tem um tempo para cumprir dentro da Igreja, mas ao contrário, a todo tempo persegue as oportunidades para evangelizar. Nossas palavras nos traem: Dizemos: “Vou trabalhar na Igreja.”. Não! A obra de Deus não é um trabalho, que tem contrato, hora de chegada, de saída, metas, férias... Se faz em todo tempo e em todo lugar. Temos que tomar cuidado para não colocarmos na nossa cabeça que a obra de Deus é só o que fazemos dentro da Igreja. Isso é só uma parte.
     Deixo mais uma reflexão: qual foi a última vez que você falou intencionalmente de Jesus fora da Igreja? Ide! Só vai quem tem o coração em chamas.A luz não pode passar despercebida. Você não trabalha como agente de Pastoral Familiar, você é cristão! Por isso, Jesus Cristo espera que você responda a esse Ide com gente naufragando, indo pro inferno ao nosso lado e somos cristãos invisíveis e acomodados e não fazemos nada.
Mas anunciar o Evangelho é muito difícil, eu tenho que estar preparado, fazer um curso. Não! Evangelizar se aprende evangelizando. Evangelho significa “boa notícia”. Num mundo onde só se ouvem más notícias todos vão querer ouvir a boa notícia que eu tenho ara dar. Notícia ruim ou mentira é que precisa de enrolação. E a notícia é muito simples: você vai dar o s primeiros passos. A vida cristã Jesus comparou com uma porta e um caminho. Ambos estreitos. Uma porta você atravessa com um passo. Isso é a evangelização. Depois a pessoa vai trilhar este caminho com seus próprios passos. Um resumo está em Jo 3, 16-17 “De tal modo Deus amou o mundo para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque o Filho do Homem não veio para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.”.
Tem gente que acha que Deus é só pros outros. Lembremos por exemplo a incredulidade de Zacarias, que estava cercado de tudo que era mais sagrado e mesmo assim achava que não era para ele...
Deus deu para nós o que tinha de melhor. Como não se sentir amado? Deus só espera que confiemos nele, para depois irmos caminhando. Cristianismo não é moralismo. Nós somos muito amados por este Pai que tem sonhos belíssimos para nós. Só nos cabe andar com ele. Há pessoas que só vãos conseguir mudar se se sentirem amadas, se puderem confiar de novo em alguém. Quem crê em Jesus, não estraga, não azeda. Você não vai dividir esta Verdade com o outros?
Nossa tarefa não é condenar o mundo, nossa tarefa é dizer para este mundo de más notícias que ainda vale a pena viver. Divida com outros essa beleza. 
“Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.”
Jesus diz ide por TODO mundo e anuncia o Evangelho a TODA criatura. Algumas pessoas dizem que “Aqui, isso não funciona. As pessoas aqui não querem, aqui em Copacabana não dá, na Piedade isso não funciona...”. Todo mundo é TODO mundo, a TODA criatura é a TODA pessoa. Nossa tarefa é anunciar não é fazer acontecer. Esta parte cabe ao Espírito Santo. O Evangelho não funciona se não for anunciado. Um remédio no vidro não funciona: só se for tomado. O Evangelho funciona: ah, mas no Rio de Janeiro não funciona. O Rio de Janeiro não é mais difícil que outros lugares. O problema pode ser que as pessoas do Rio de Janeiro não vão...
Todos nós vivemos em periferias existenciais. Quantas pessoas estão perdidas dentro delas mesmas pois estão arrebentadas por dentro. Não conseguem ter uma vida equilibrada e saudável. Será que Deus colocou você perto destas pessoas por acaso? Se você pedir a Deus para ver o que Ele vê, talvez ele visse um campo com muitos frutos já maduros que precisam de ceifadores, do contrário, apodrecerão. Ou talvez mostre você dentro de um barco seguro e as pessoas se afogando a sua volta, esperando que você as estenda a mão. Sai de si mesmo, olhe ao seu redor, note quem está ao seu lado. Comece exercitando-se na sua família. Nesse treino de perceber o outro, como eu tenho me saído ultimamente? Há muita gente machucada por fora e por dentro que precisa que eu note e faça algo.
“De forma especial, queria que este mandato de Cristo -”Ide” – ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido!”
O mundo precisa de Jesus Cristo, ele é indispensável. Nós temos o que o mundo precisa, mas será que acreditamos no valor daquilo que nós temos? Trabalho na PUC e vejo como é difícil para os alunos católicos terem uma presença mais incisiva. Parece que só falta eles falarem: “Desculpe, sou católico...”. Não precisamos ser católicos esquisitos, nem complexados.
“Sem medo. Alguém poderia pensar: «Eu não tenho nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho»? Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve Jeremias, um jovem como vocês, quando foi chamado por Deus para ser profeta. Acabamos de escutar as suas palavras: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: «Não tenhas medo… pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está conosco!
«Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês!
Além disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos!”
Ide, sem medo. Sem medo! Existe um homem muito precioso para a Igreja que está em processo de beatificação. Ele é bispo da Igreja no Vietnã e por isso era subversivo. Ele foi preso e levado a um campo de reeducação para se tornar comunista. Ele não pode levar nenhum distintivo que o identificasse como religioso. Ele foi considerado de alta periculosidade porque convertia a todos a sua volta. Confie mais na graça de Deus do que nos seus defeitos, porque eles não são empecilhos para Deus. O maior recurso que temos para evangelizar está dentro de nós. Os outros meios só amplificam, mas o conteúdo é o principal. É isso que chega ao coração das pessoas. O que Deus tem feito nas nossas vidas: isso é o que temos de principal.
“A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.” 
Imperativo, segunda pessoa, plural, Ide. Na obra da Evangelização nunca trabalhamos sozinhos. A Igreja não é lugar para fazermos carreira solo, somos um orquestra e precisamos uns dos outros. Por isso, existe a Pastoral Familiar, famílias evangelizando famílias. Somos uma comunidade. São Paulo diz: a Igreja é a família de Deus. A Igreja é o lugar onde juntos temos um relacionamento com Deus. O mais importante da pastoral não é trabalho, nem agenda, mas nossos relacionamentos. Jesus deu a vida por gente, a Igreja é gente. Do contrário vamos vivendo de evento em evento e gastarmos o nosso fôlego entre um evento e outro. Uma família deve ter momentos de festa mas nenhuma família vive de festa. Vive de cultivar a intimidade no dia-a-dia. Não adianta só fazer eventos. Podemos ter mil meios, mas eles não substituem as tecnologias. Trabalhamos juntos, mas a vida não se faz de eventos, mas de relacionamentos cuidados, construídos no dia-a-dia. É muito mais fácil construirmos eventos, porque eles tem data fixa, acabas e nos dão a sensação de que fizemos alguma coisa... Relacionamentos dão muito mais trabalho porque são constantes, não têm data para acabar, e às vezes parecem tempo perdido. Mas não são. No final, é o que se colhe nos relacionamentos, isso é o que fica.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CONGRESSO DA PASTORAL FAMILIAR



Transcrevemos a ABERTURA do Congresso Pastoral Familiar 2013, proferida por DOM ANTONIO Augusto Dias Duarte.

Começo relembrando 3 citações do papa Francisco que deveríamos grifar, dentre tantas outras também importantes:
1)      No discurso aos voluntários, o Papa Francisco disse:
“Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação significa caminhar na direção da realização jubilosa de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um.
Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do Matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”; está fora de moda? na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã.
Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes!”
 
2)      Em Copacabana, afirmou:
“Vejam, queridos amigos, a fé realiza na nossa vida uma revolução que podíamos chamar copernicana, porque nos tira do centro e o restitui a Deus; a fé nos imerge no seu amor que nos dá segurança, força, esperança. Aparentemente não muda nada, mas, no mais íntimo de nós mesmos, tudo muda. No nosso coração, habita a paz, a mansidão, a ternura, a coragem, a serenidade e a alegria, que são os frutos do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22) e a nossa existência se transforma, o nosso modo de pensar e agir se renova, torna-se o modo de pensar e de agir de Jesus, de Deus.”
 
3)      E no discurso aos bispos no Sumaré, falou novamente o Papa:
 
“Em Aparecida, verificam-se de forma relevante duas categorias pastorais, que surgem da própria originalidade do Evangelho e nos podem também servir de orientação para avaliar o modo como vivemos eclesialmente o discipulado missionário: a proximidade e o encontro. Nenhuma das duas é nova, antes configuram a maneira como Deus se revelou na história. É o “Deus próximo” do seu povo, proximidade que chega ao máximo quando Ele encarna. É o Deus que sai ao encontro do seu povo. Na América Latina e no Caribe, existem pastorais “distantes”, pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as condutas, os procedimentos organizacionais... obviamente sem proximidade, sem ternura, nem carinho.
Ignora-se a “revolução da ternura”, que provocou a encarnação do Verbo. Há pastorais posicionadas com tal dose de distância que são incapazes de conseguir o encontro: encontro com Jesus Cristo, encontro com os irmãos. Este tipo de pastoral pode, no máximo, prometer uma dimensão de proselitismo, mas nunca chegam a conseguir inserção nem pertença eclesial. A proximidade cria comunhão e pertença, dá lugar ao encontro. A proximidade toma forma de diálogo e cria uma cultura do encontro.”
 
Reassando os discursos do papa linha por linha, veremos com que força ele usa as palavras revolução ou rebelião. Diz-se que por onde a JMJ passou a cidade jamais foi a mesma: gerou uma revolução. Por isso, escolhemos este tema para o nosso Congresso deste ano.
Diante desta palavras, cabem-nos duas posturas
- Concordar e cruzar os braços ou
- Propor-nos de verdade a fazermos esta revolução própria da fé, Uma revolução que nos faz caminhar contra a corrente. Mas para tal, precisamos ser homens e mulheres rebeldes. Deus nos pede isso, que vivamos esta revolução. A fé autêntica [e revolucionário, vira uma pessoa pelo avesso, muda um estilo pastoral. Quando a Palavra de Deus e as palavras do papa são só palavras, não causam nenhuma revolução. Mas se enfrentamos os desafios divinos, fazemos uma revolução. O Cristianismo é uma religião que nos desafia. Nos desafia à santidade, a mudar o mundo, a perdoar sempre, a viver a castidade, a honestidade, etc.
O Papa não disse apenas palavras. Como o Francisco de Assis, nos mostra como temos que revolucionar as pastorais, a nossa paróquia, a nossa arquidiocese. Mas precisamos crescer em rebeldia. A rebeldia não é uma atitude negativa, nem violenta, nem contestadora. Não precisamos ser pessoas que causem confusão. Ser rebelde é não ficar satisfeito enquanto não se vive a verdadeira Verdade.
Me marcou uma citação de um pensador contemporâneo que pensa como esta caminhando o mundo. Fala de uma pessoa acomodada e de fé atrofiada:
“O ser humano prefere, por razões de conveniência, errar junto com a massa do que ter razão contra ela.” Essa é uma tendência que o pecado original deixou em nós, dando-nos conformismo.
Num mundo em que se valoriza tanto o individualismo e o politicamente correto, onde esse dá tanto espaço para pessoas que estão eletronicamente dirigidas (como robôs “Maria-vai-com-as-outras). Se me diferenciar corro o risco de ser discriminado e excluído. Num mundo assim que é especialmente manipulado, diante deste mundo é que a pessoa rebelde não se conforma. Diante da manipulação parcial para que as pessoas não cheguem a formação integral. O “tudo” não é nunca mostrado ou dito. Ex. Ninguém diz tudo o que está por trás destas manifestações que vemos desde junho... Não são ditas todas as verdades, todos os valores, todas as informações “nuas e cruas”. Um mundo manipulado leva as pessoas a irem com a massa e não tomarem decisões rebeldes. Quando não se tem formação, não se pensa. Hoje colhemos os frutos podres da manipulação que começou na década de 70.
Neste mundo o papa nos diz que é urgente a rebeldia revolucionária. Em dois pontos podemos nos concentrar:
  1. Tem que haver rebeldia da família. As nossas famílias têm que ser rebeldes
  2.  E as famílias que estão na Pastoral Familiar devem fazer uma revolução dentro de suas próprias famílias e da sua pastoral.
 
Ponto 1
Na palestra: “A Luta pela Família Já Começou” (pronunciada por Franz Keningnen muito amigo de João Paulo II, ele disse que é na família onde o ser humano aprende a dar-se. Vive o respeito e o carinho. O amor é incapaz de sobreviver se não é alimentado na família.Não venha me falar de amor aos pobre, aos diferentes, ã pátria, se o amor não é alimentado na família... não podemos deixar que a família se apodreça e seja extinta. É preciso entrar nesta luta pela família, se preciso sacrificar-se, para que o amor não morra. Quando os bens materiais se tornam mais importantes do que a família, não se pode surpreender com uma crise.
Notamos a pouca consideração tanto na política como na educação e também na reforma das leis com a família. No nossos tempo as pessoas estão experimentando o que é um mundo sem Deus e sem amor.
A rebeldia não é uma mera atitude de critica ou de se do contra, mas um sadio anticonformismo. Não posso me conformar que minha família entre em realidade s que não são do projeto de Deus. Não adiante ficar sentado no sofá sentado olhando a TV e dizendo: Como o mundo está mal, como estes programas são horríveis, como o mundo está egoísta... Isso de nada adianta se, na minha casa, as pessoas tem espaço para aquilo que não vai ser uma fonte de amor de respeito, de doação ou de partilha. Pior do que não saber o que quer é não querer. O rebelde sabe que quer para sua família um ambiente ético e por isso não deixa entrar certos ventos que trazem contra-valores para sua família.
Por exemplo, um valor familiar cotidiano – a responsabilidade – que nos leva a assumir a família com algo próprio. Como vemos hoje as pessoas irresponsáveis na palavra dada... É um absurdo um filho sair de casa e o pai e a mãe não sabem onde ele estava. Não podemos nos conformar com isso. Numa família de verdade, tudo é de todos. E todos são importantes. Os pais vão se conformando que os filhos são bagunceiros, a esposa vai se conformando que o seu marido só gosta de ficar no computador, o marido se conforma que a mulher sempre estoura o cartão de crédito... vamos nos conformando e a família vai se afastando cada vez mais de ser um projeto de Deus.
Outro exemplo: a liberdade – palavra muito manipulada hoje em dia. Somos chamados a viver um amor autêntico e ordenado. Não posso me conformar que pessoas da minha família se dediquem no amor ao próximo de forma tão disponível que não tenham cinco minutos de amor para estar ao lado de um irmão, irmã, avô, avó... Nossa vocação é a família. Ela deve vir em primeiro lugar. Não podemos nos conformar dizendo: “Não tem mais jeito...”.
Não podemos nos conformar com programas de televisão. Não podemos ceder naquilo que não e nosso mas é de Deus: a família não é nossa, é projeto de Deus. Podemos dar retoques na decoração, mas jamais na viga mestra desta estrutura. Do contrário, apodrecerá e morrerá. Não podemos ceder naquilo que não é nosso. Assim como o sacerdote não pode ceder naquilo que não é dele, como por exemplo a doutrina.
 
 
Ponto 2
Precisamos ser revolucionários na família. O que quer dizer isso? De forma concreta, fazer com que cada pessoa da família saiba dizer “sim” ao que é importante e dizer não ao que é secundário. A revolução acontece quando cada um sabe buscar o que é o melhor para todos.
Precisamos dizer “não”, às vezes, a coisas importantes para dizer “sim” a coisas essenciais. Por exemplo, é importante descansar, mas é mais importante atender uma pessoa que me telefona às 10h da noite precisando de uma palavra de consolo.
Outra forma de causar uma revolução na família é sermos criativos. A família hoje em dia precisa ser muito criativa porque o mundo é muito sugestivo, sugere mil programas para as pessoas. Por exemplo, o programa da sexta-feira à tarde, do chopinho na mesinha do bar: parece um mandamento na sociedade de hoje. Por quê? Porque um colega sugere, e não há nada mais criativo para se fazer. Enquanto isso, a família espera em casa... Falta criatividade para promover festas dos filhos com os amigos dos filhos em ambientes sadios. Do contrário, eles vão para as discotecas ou raves.
Duas palavras importantíssimas para vivermos esta rebeldia na família e tornarmos isso uma forma de ser familiar. Primeiro precisamos de valentia. Não podemos aceitar passivamente que só porque todos façam assim devemos nos conformar com isso. Dizem que “Deus criou o mundo, mas o alugou para os valentes.” , mas vemos hoje que quem está tomando conta dele são os medíocres, que o sub-locam por R$1,99, oferecendo coisas de pouquíssimo valor.
E o outro ponto é a audácia. Uma família revolucionaria consegue criar esta onda.
Perguntas:
1-      Até que ponto estou insatisfeito com tanto consumismo, hedonismo, materialismo e permissivismo que afetam minha família?
2-      Compreendo que sé me revoltando de modo sadio posso defender minha família deste coletivismo social (todo mundo faz assim...)?
3-      Em que aspectos da minha família é mais urgente s rebeldia e a revolução?
4-      Quais são as principais limitações artificiais que eu imponho a mim mesmo e a minha família? (ex. “Não consigo fazer com que meus filhos arrumem sua cama, não consigo desligar a televisão na hora em que todos estamos jantando...”)
5-      Onde, na minha família, se está perdendo o sentido da vida familiar?
 

 



 

domingo, 13 de outubro de 2013

Retiro Arquidiocesano (13-10-13)

5ª MEDITAÇÃO
AS CONSEQUENCIAS DA FÉ
Comecemos iluminados pela Lumen Fidei, n. 54:
“Assimilada e aprofundada em família, a fé torna-se luz para iluminar todas as relações sociais. Como experiência da paternidade e da misericórdia de Deus, dilata-se depois em caminho fraterno. Na Idade Moderna, procurou-se construir a fraternidade universal entre os homens, baseando-se na sua igualdade; mas, pouco a pouco, fomos compreendendo que esta fraternidade, privada do referimento a um Pai comum como seu fundamento último, não consegue subsistir; por isso, é necessário voltar à verdadeira raiz da fraternidade. Desde o seu início, a história de fé foi uma história de fraternidade, embora não desprovida de conflitos. Deus chama Abraão para sair da sua terra, prometendo fazer dele uma única e grande nação, um grande povo, sobre o qual repousa a Bênção divina (cf. Gn 12, 1-3). À medida que a história da salvação avança, o homem descobre que Deus quer fazer a todos participar como irmãos da única bênção, que encontra a sua plenitude em Jesus, para que todos se tornem um só. O amor inexaurível do Pai é-nos comunicado em Jesus, também através da presença do irmão. A fé ensina-nos a ver que, em cada homem, há uma bênção para mim, que a luz do rosto de Deus me ilumina através do rosto do irmão. (...) No centro da fé bíblica, há o amor de Deus, o seu cuidado concreto por cada pessoa, o seu desejo de salvação que abraça toda a humanidade e a criação inteira e que atinge o clímax na encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Quando se obscurece esta realidade, falta o critério para individuar o que torna preciosa e única a vida do homem; e este perde o seu lugar no universo, extravia-se na natureza, renunciando à própria responsabilidade moral, ou então pretende ser árbitro absoluto, arrogando-se um poder de manipulação sem limites.”
As pessoas ao nosso lado são uma bênção de Deus para mim. Mas o mundo moderno distorce o verdadeiro sentido de fraternidade porque é altamente individualista, violento e que promove a separação. A fraternidade foi substituída por uma igualdade altamente injusta, disfarçada de justiça. Nossa missão é fazer do mundo uma fraternidade. Mesmo que não consigamos fazer o mundo inteiro ser católico, afinal, somos poucos – somos o sal que dá sabor, o fermento que faz a massa crescer – mas o principal é tornar o mundo mais fraterno: somos uma família de irmãos. O primeiro conflito na história da humanidade foi um conflito entre irmãos: Caim matou Abel.
Hoje também as pessoas fogem da responsabilidade de criarem entre si relações de famílias, e pensam como Caim: “O que eu tenho a ver com a vida do meu irmão?”. Se conseguimos enxergar no outro o rosto do nosso primeiro irmão, Cristo, criamos a consciência de que criar esta família universal é responsabilidade de todos nós. Os vocacionados ao celibato renunciaram a uma família particular para cuidarem junto com os vocacionados ao matrimônio em prol desta grande família.
João Paulo I contou certa vez que um amigo seu professor foi convocado a uma reunião da Secretaria de educação em Roma. Ao final do dia, o Ministro convidou o professor para que passasse a noite lá e ficasse até o dia seguinte e passeasse pela cidade. O professor recusou o convite, alegando que tinha aula logo cedo na manhã seguinte. O Ministro retrucou: “Ora, eu sou o ministro da educação, eu te dispenso.”, ao que o professor completa: “Mas eu não me dispenso.”.
Quando temos consciência de que a reponsabilidade é nossa, nós mesmos não nos esquivamos dela. No discurso às autoridades no teatro Municipal, o Papa disse:
“É importante, antes de tudo, valorizar a originalidade dinâmica que caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinária capacidade para integrar elementos diversos. O sentir comum de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criatividade, os princípios fundamentais da sua vida, os critérios de juízo sobre as prioridades, sobre as normas de ação, assentam numa visão integral da pessoa humana. Esta visão do homem e da vida, tal como a fez própria o povo brasileiro, muito recebeu da seiva do Evangelho através da Igreja Católica: primeiramente a fé em Jesus Cristo, no amor de Deus e a fraternidade com o próximo. Mas a riqueza desta seiva deve ser plenamente valorizada!”
Há tantos discursos politicamente corretos da igualdade, mas que são injustos porque querem tirar elementos da cultura brasileira enraizados no Evangelho. Temos uma responsabilidade social. Continua o papa: “Esta exige um certo tipo de paradigma cultural e, consequentemente, de política. Somos responsáveis pela formação de novas gerações, capacitadas na economia e na política, e firmes nos valores éticos.
O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Quem detém uma função de guia deve ter objetivos muito concretos, e buscar os meios específicos para consegui-los.” No início de cada semana, deveríamos fazer um plano concreto sobre como agir, com quem vamos estar, que palavras vamos dirigir com as pessoas que amamos. Precisamos nos propor estes objetivos concretos de apostolado. Não podemos ficar dando desculpas do tipo: “Se aparecer alguma oportunidade.... eu aproveito.”. Não!
Ponho um objetivo concreto: Dom Orani reúne os bispos toda semana para uma reunião. Desde depois da Jornada, ela acontece no Sumaré, porque, depois do encontro, podemos jantar juntos. E assim vamos construindo nossa fraternidade também. Toda família deveria fazer um propósito mínimo de fazer uma refeição junta, pelo menos, uma vez por semana.
Cito: “A virtude dinâmica da esperança incentiva a ir sempre mais longe, a empregar todas as energias e capacidades a favor das pessoas para quem se trabalha, aceitando os resultados e criando condições para descobrir novos caminhos, dando-se mesmo sem ver resultados, mas mantendo viva a esperança. Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Além da racionalidade científica e técnica, na atual situação, impõe-se o vínculo moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária.”
O que eu tenho feito para criar este ambiente ético saudável na minha casa, no trabalho, na comunidade? Às vezes, falta-nos uma fé viva, uma fé que veja o rosto de Cristo no outro, como deixou sua imagem impressa na Verônica.
Na XXVIII mensagem para a JMJ escrita por Bento XVI, no dia 18 de outubro de 2012:
“A conhecida estátua do Cristo Redentor, que se eleva sobre àquela bela cidade brasileira, será o símbolo eloquente deste convite: seus braços abertos são o sinal da acolhida que o Senhor reservará a todos quantos vierem até Ele, e o seu coração retrata o imenso amor que Ele tem por cada um e cada uma de vós. Deixai-vos atrair por Ele! Vivei essa experiência de encontro com Cristo, junto com tantos outros jovens que se reunirão no Rio para o próximo encontro mundial! Deixai-vos amar por Ele e sereis as testemunhas de que o mundo precisa.”
O que o papa escreveu, de fato, aconteceu. Nosso povo acolheu como ninguém. Nesta curta mensagem, o papa nos chama a uma responsabilidade pessoal:
“Ide! Cristo precisa de também de vós. Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance a todos, especialmente aos «afastados». Alguns encontram-se geograficamente distantes, enquanto outros estão longe porque a sua cultura não dá espaço para Deus; alguns ainda não acolheram o Evangelho pessoalmente, enquanto outros, apesar de o terem recebido, vivem como se Deus não existisse. A todos abramos a porta do nosso coração; procuremos entrar em diálogo com simplicidade e respeito: este diálogo, se vivido com uma amizade verdadeira, dará seus frutos... Quem não dá Deus, dá muito pouco.”
Criar esta fraternidade para que todos vivam como irmãos, como família, cuidando todos juntos pela grande família. No livro dos Provérbios se lê: “Um irmão ajudado por outro irmão é como uma cidade amuralhada.” (Prv 18, 19) Podemos constantemente, de forma sistemática, darmos testemunho da vida, do namoro, da família. Não esperemos que venha uma iniciativa oficial de uma atividade... não. Cada um de nós pode e deve assumir esta responsabilidade, esta missão.
Hoje o papa Francisco vai consagrar o mundo a Nossa senhora. Com esta consagração, lancemo-nos com audácia.

2ª PALESTRA
O Papa Bento XVI dirigiu-se ao Parlamento na Alemanha, sua terra natal, em 2011, nos seguintes termos:
“O seu critério último e a motivação para o seu trabalho como político não devem ser o sucesso e menos ainda o lucro material. A política deve ser um compromisso em prol da justiça e, assim, criar as condições de fundo para a paz. Naturalmente um político procurará o sucesso, sem o qual não poderia jamais ter a possibilidade de uma ação política efetiva; mas o sucesso há-de estar subordinado ao critério da justiça, à vontade de atuar o direito e à inteligência do direito. É que o sucesso pode tornar-se também um aliciamento, abrindo assim a estrada à falsificação do direito, à destruição da justiça. «Se se põe de parte o direito, em que se distingue então o Estado de uma grande banda de salteadores?» – sentenciou uma vez Santo Agostinho (De civitate Dei IV, 4, 1). Nós, alemães, sabemos pela nossa experiência que estas palavras não são um fútil espantalho. Experimentámos a separação entre o poder e o direito, o poder colocar-se contra o direito, o seu espezinhar o direito, de tal modo que o Estado se tornara o instrumento para a destruição do direito: tornara-se uma banda de salteadores muito bem organizada, que podia ameaçar o mundo inteiro e impeli-lo até à beira do precipício. Servir o direito e combater o domínio da injustiça é e permanece a tarefa fundamental do político... Como reconhecemos o que é justo? Como podemos distinguir entre o bem e o mal, entre o verdadeiro direito e o direito apenas aparente? O pedido de Salomão permanece a questão decisiva perante a qual se encontram também hoje o homem político e a política... No século III, o grande teólogo Orígenes justificou assim a resistência dos cristãos a certos ordenamentos jurídicos em vigor: «Se alguém se encontrasse no povo de Scizia que tem leis irreligiosas e fosse obrigado a viver no meio deles, (…) estes agiriam, sem dúvida, de modo muito razoável se, em nome da lei da verdade que precisamente no povo da Scizia é ilegalidade, formassem juntamente com outros, que tenham a mesma opinião, associações mesmo contra o ordenamento em vigor» Como se reconhece o que é justo? Na história, os ordenamentos jurídicos foram quase sempre religiosamente motivados: com base numa referência à Divindade, decide-se aquilo que é justo entre os homens. Ao contrário doutras grandes religiões, o cristianismo nunca impôs ao Estado e à sociedade um direito revelado, nunca impôs um ordenamento jurídico derivado duma revelação. Mas apelou para a natureza e a razão como verdadeiras fontes do direito; apelou para a harmonia entre razão objetiva e subjetiva, mas uma harmonia que pressupõe serem as duas esferas fundadas na Razão criadora de Deus... Neste contato nasceu a cultura jurídica ocidental, que foi, e é ainda agora, de importância decisiva para a cultura jurídica da humanidade. Desta ligação pré-cristã entre direito e filosofia parte o caminho que leva, através da Idade Média cristã, ao desenvolvimento jurídico do Iluminismo até à Declaração dos Direitos Humanos e depois à nossa Lei Fundamental alemã, pela qual o nosso povo reconheceu, em 1949, «os direitos invioláveis e inalienáveis do homem como fundamento de toda a comunidade humana, da paz e da justiça no mundo».”
O papa Francisco, como disse na meditação anterior, nos recorda que devemos formar uma fraternidade, e isto passa também pelo campo político. O fundamento da ação humana é uma ação política: nossas ações devem reverter para o bem comum da sociedade. Toda ação política e todo político na sua ação devem ter como fonte os direitos invioláveis e inalienáveis do ser humano. Como cidadãos, nos caminhos de atuação que nos são próprios, como podemos atuar.
Partilho reflexões do que ouvi num seminário de que participei em setembro sobre sentenças das cortes universais. Pensemos no caso do Brasil. Dos 39 ministérios brasileiros, vocês lembram quando foram criadas a Secretaria Nacional das Mulheres, dos Direitos Humanos... – secretarias com status de ministério? De 2002 para cá. São tantos, que nem sabemos os nomes dos ministros que os comanda. A filosofia é: quanto mais se pulveriza, menos controle social se tem.
Isso é um padrão em toda a América Latina e, em todos os níveis: federal, estadual e municipal e até em instâncias maiores, como o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, que existe de 1978. Ele deu origem à Convenção internacional dos Direitos Humanos que, por sua vez, formou também uma Comissão. Ela é composta por sete pessoas indicadas por este sistema, para um mandato de quatro anos, e tem a missão de fiscalizar os direitos humanos nos países que fazem parte desta convenção.
Daí, surgiu a Corte Interamericana dos Direitos Humanos. Ela tem duas funções: uma consultiva, que emite ditames e conclusões sobre questões relacionadas aos direitos humanos e outra função é a jurisdicional, ou seja, emitir sentenças vinculantes. Ela atua como um tribunal de justiça internacional que resolve questões de direitos humanos. Vinte e cinco, dos trinta e cinco países, fazem parte desta convenção. Dois negaram-se radicalmente a participar: Cuba e Venezuela, países que violam os direitos humanos abertamente. Os demais países signatários são obrigados a seguirem as tais sentenças vinculantes.
Ninguém vive sem ter uma filosofia de vida. Esperamos que a nossa seja inspirada por Jesus Cristo. Qual é a filosofia de vida ou ideologia que inspira tais organizações que se escondem por detrás da bandeira dos direitos humanos? Existem pessoas que decidem quais direitos humanos estão sendo violados. Atualmente, a Corte e a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos estão enraizadas na Ideologia do Gênero, que prega atos como: liberação do aborto, manipulação de embriões congelados, destruição o conceito de família natural, abertura das portas para o casamento e adoção homossexual. As pessoas que decidem sobre tais quesões foram eleitas para legislarem a partir de suas ideologias. Pessoas que deveriam trabalhar a favor do bem da humanidade, foram preparadas para defenderem, na verdade, direitos humanos arbitrários. A estratégia atual é utilizar este sistema para impor aos países, através de pressões e sentenças, essa ideologia.
A Comissão criou em 2011, dentro de sua estrutura, uma sub-comissão chamada “Unidade para os direitos das lésbicas, gays, transexuais, bissexuais e intersexuais” que dá ênfase às pretensões destas comunidades, anunciando que oferecerá assessoria aos Estados nesta matéria. Alguns dos seus membros são:
- Ledo Garcia, do Peru, presidente desta comissão e que já publicou diversos artigos em revistas jurídicas a favor da legalização do aborto e da manipulação embrionária livre;
- Margareth May, da Jamaica, é do grupo nacional a favor do aborto; - Alberto Perez Perez é militante da legalização do aborto e a favor dos direitos gays;
- Alberto Sierra Porto, é do STF da Colômbia, favoreceu a despenalização do aborto em seu país em 2006, e em 2012 colocou o aborto como direito humano fundamental. É favorável também ao casamento homossexual;
- Eduardo Ferrera MacGregor, mexicano, tem publicações acadêmicas sobre a ideologia de gênero;
- Roberto Caldas do Brasil, favorável ao aborto, ideologia gay, etc...
Esta corte, constituída por estes juízes e outros que seguem a mesma linha de pensamento e ação, todos de ideologia bem conhecida, que assim como os nossos juízes do STF brasileiro foram “escolhidos a dedo”. Não e por acaso que, no Brasil, em 2010, o STF votou pela aprovação da união homossexual e em 2012, legalizando o aborto dos anencéfalos. Barroso, o mais recente juiz, lutou para que o aborto dos anencéfalos fosse cumprido no Rio, bem como a união homoafetiva. José Tofoli, não passou sequer no concurso para juiz, mas foi indicado por suas posturas ideológicas favoráveis ao sistema.
Como o Brasil assinou esta convenção interamericana, já está claro que o único caminho que o órgão encontra é o caminho jurídico, porque o povo brasileiro é a favor da vida e da família. É preciso cumprir regras como:
- a identidade de gênero deve ser protegida;
- está proscrito qualquer ato ou norma que fira a identidade de gênero da pessoa (nem Constituição, nem Código Penal ou Civil, ... nada pode restringir os direitos sexuais da pessoa);
- o interesse superior da criança não pode ser utilizado para amparar a discriminação da orientação sexual da mãe ou do pai, influenciando a adoção ou custódia da criança.
Quem não respeita esses supostos “direitos humanos” é sancionado, não recebendo ajuda financeira de órgãos internacionais. Um exemplo aconteceu em 2012 quando uma mulher na Costa rica foi impedida de cometer um aborto. Os grupos que seguem estas ideologias pinçam estes casos, auxiliando as pessoas a recorrerem diretamente à Corte interamericana. Deste caso, saíram as seguintes sentenças, que são uma verdadeira ditadura jurídica:
- o embrião em seu estágio inicial é um amontoado de células e não pode ser entendido como pessoa. - antes da implantação não há pessoa e portanto o artigo 4, que protege a vida do concebido, não se aplicaria.
- a proteção do direito à vida não é absoluto, mas gradual, de acordo com seu desenvolvimento.
- os direitos reprodutivos englobam os direitos que todos os casais e indivíduos tem o direito de decidir livremente o número de filhos e o espaçamento entre eles e tem direito à informação sobre como regular a natalidade.
- a Corte ordena que o Estado implemente programas e cursos de capacitação de Direitos Humanos, direitos sexuais reprodutivos, não discriminação dirigidos a funcionários do jurídico de todas as áreas e escalões.
Esse tipo de formação, esta ideologia, já está permeando as escolas e faculdades. Cabe aos pais estarem atentos, fiscalizarem e reclamarem se a ideologia ensinada não estiver condizente com suas convicções e valores.
 
Qual é a situação da vida e da família na América Latina?
 
Desde a década de 90, a América Latina vem experimentando uma série de mudanças legislativas em termos de vida e família que está gerando uma nova fisionomia cultural no continente da esperança. Os passos em todos os países são os mesmo, com os mesmos textos.
O Projeto de Lei de apoio à violência sexual contra a mulher está cheio de termos próprios desta ideologia, como: profilaxia da gravidez. Ora, profilaxia é prevenção a doenças, mas gravidez não é doença. A proposta é escamotear o “direito” que a mulher tem ao aborto.
A cultura gay primeiro era opção, depois virou condição, e agora é um direito. Será que um dia será uma obrigação?! Três grandes frentes são assumidas:
- Conceito de saúde reprodutiva – depois da primeira revolução sexual, apareceu a epidemia das DSTs. O perfil social de quem contraia estas doenças foi se ampliando. Mas a ideologia prega a educação sexual deve ser de acordo com a cultura do gênero.
- Direitos da mulher – desse 1995, com a Conferência Mundial de Pequim, se avançou em distintos desafios como a imposição da ideologia de gênero, com o dever de não discriminar e liberar as técnicas de fecundação artificial e se ter uma hegemonia do terreno educativo. É preciso impor um modelo antropológico individualista.
- Enfrentar os principais focos de resistência – enfrentar, mesmo que de forma disfarçada, o principal foco de resistência a essas políticas: a Igreja Católica. A Comissão Interamericana, por exemplo, obrigou o Chile a readmitir uma professora de religião numa escola católica que assumia ser lésbica e ensinava na escola sobre a ideologia de gênero.
Todos os Estados latino-americanos em seus leis próprias reconhecem o matrimonio entre homem e mulher e o direito à vida desde a concepção, mas estão se vendo obrigados a se submeterem a essas leis.
Partilho, ainda, uns trechos da introdução de um livro “Os Direitos Humanos Depredados”, da norueguesa, mães de cinco filhos e com todo um currículo em favor da vida e da família, Jane Hewlett Matlery. Alguns pontos importantes são
- O pensamento político desde a antiguidade está baseado no direito natural e preservado até hoje pela Igreja Católica. Os direitos naturais não são propriamente cristãos, mas pelo Cristianismo são mais iluminados e mais compreendidos.
- Devemos nos concentrar em dois temas. Não o conceito de direito, mas sim o conceito de “ser humano” e o que significa “racionalidade”. A ideia de racionalidade hoje em dia é muito pobre. O que é ser racional? É ser um ser capaz de raciocinar sobre a ética.
- A “trindade moderna” é: (1) direitos humanos, (2) a democracia e (3) o império da Lei.”
Volto ao papa Bento, no discurso mencionado:
“Ao jovem rei Salomão, na hora de assumir o poder, foi concedido formular um seu pedido. Que sucederia se nos fosse concedido a nós, legisladores de hoje, fazer um pedido? O que é que pediríamos? Penso que também hoje, em última análise, nada mais poderíamos desejar que um coração dócil, a capacidade de distinguir o bem do mal e, deste modo, estabelecer um direito verdadeiro, servir a justiça e a paz.”

Retiro Arquidiocesano (12-10-13)

3ª MEDITAÇÃO
A FÉ VISTA
A fé precisa ser cultivada na atitude de sensibilizarmos mais a alma. Num retiro temos oportunidade de ouvir a pregação, mas de fazer com que essas palavras ressoem em nós. O papa emérito Bento XVI nos lembrava, na carta Porta Fidei que mencionamos antes, que precisamos fazer brilhar a luz da fé. Vejamos uns certos personagens dos Evangelhos: os cegos. Todos os que tiveram uma fé que brilhava diante dos outros, obtiveram um grande milagre. O cego de Jericó gritava tanto que chegava a incomodar: “Filho de Davi, tende piedade de mim!”. Diante da insistência, Jesus pergunta: “O que queres que eu te faça?”. Disse-lhe: “Senhor, que eu veja!”. Jesus nem sequer o tocou, só respondeu-lhe: “Veja.”. Num outro episódio, Jesus faz uma lama para colocar nos olhos de um outro cego, o que lhe foi como que um “colírio da graça”. A outro, mandou lavar-se na piscina de Siloé...
Esses cegos são um exemplo pela humanidade da fé que se transforma em visão. A fé nasce da escuta, assim é que fomos crescendo na fé: pela instrução que começou na catequese e foi-se amadurecendo. Fé é escuta, mas também é visão. É preciso ver!
O papa Francisco lembrou em Aparecida que pescadores levaram para casa um mistério. O povo tem sempre espaço para albergar o mistério. Talvez nós tenhamos reduzido o mistério a uma explicação racional, mas para o povo simples, ele é guardado no coração. A fé não vai contra a razão, nem a razão contra a fé, mas a fé não pode ficar racionalizada. A fé nos introduz no espaço do mistério. Estamos o tempo todo envolvidos no mistério. A fé se vê com o coração, com o amor.
Quando ainda era estudante de medicina, ouvi um catedrático dizer: “Nunca desconsiderem o que uma mãe diz do seu filho, porque o seu conhecimento vem do amor!”. Até como bispo, devo levar em conta ao dar um conselho sobre o que a mãe diz daquele jovem. A Deus nós conhecemos pela razão, mas também devemos conhecê-lo pelo coração.
Os pescadores não desprezam o mistério encontrado no rio. Não jogam fora os pedaços. É como um mosaico que vamos aos poucos montando. Nós queremos ver muito rápido a totalidade. Pelo contrário, Deus se faz ver pouco a pouco. Podemos questionar: "Eu tenho fé, rezo, peço, estudo, faço tudo certinho, e... a resposta não vem..". É porque queremos ver tudo muito rápido. Deus, ao contrário, se revela pouco a pouco. Não podemos ser precipitados na fé. Como aquele cego quando Jesus colocou lama nos seus olhos: primeiramente, ele via as pessoas como árvores. Só depois, foi totalmente curado. O poder de Jesus não estava menor a ponto de não conseguir curá-lo de uma vez por todas... ele queria nos dar uma lição preciosa.
O papa, numa ocasião informal quando estava aqui no Rio, e foi questionado sobre diversos desafios disse que não sabia dar resposta a todos os problemas do mundo, mas de uma coisa tinha certeza: de que o caminho é pelo coração. E, ele próprio coloca o coração em tudo o que faz e conquista as pessoas pelo coração.
“Senhor, que eu veja!”: com a sua visão de mundo e não com a minha. Eu às vezes vejo uma pessoa como difícil e problemática, mas... e Deus? Como a vê? Eu vejo esta situação como impossível? E Deus, como a vê?
Papa Bento XVI dizia que se acredita com o coração: o coração indica que o primeiro ato pelo qual se chega à fé é um dom de Deus. “Senhor, aumenta a minha fé!”, peçamos isso também.” Maria Madalena, no relato da ressurreição, disse aos apóstolos: “Eu vi o Senhor!”. Pedro entrou no sepulcro e João, diz o Evangelho: “Viu e acreditou.”. Viu o que? O sepulcro vazio. Ele não viu Jesus Glorioso, mas, porque tinha escutado, viu o vazio, viu com os olhos da fé e acreditou. Já Tomé... exigiu provas. É como fazemos muitas vezes. E Jesus se submeteu à incredulidade de Tomé, que viu e respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” E Jesus completa: “Bem-aventurados os que crerão sem terem visto.”.
Nunca deixemos de dizer nem um dia da nossa vida: “Eu creio, mas aumenta a minha fé”. Que eu veja a sua bondade, onipotência, misericórdia, sabedoria... que vão se revelando pouco a pouco. O papa Francisco, comentando ainda as romarias de pessoas que vão a Aparecida para verem uma imagem e sem de lá convencidas que há uma mãe que vela e intercede por eles. Quem acorre a um santuário com a alma desarmada, volta transformado, ainda que não consiga nenhum milagre.
Há muito o que aprender na atitude dos pescadores. Eles nos ensinam que devemos viver em uma Igreja que dá espaço ao mistério de Deus. Deus faz-se levar para casa. Ele desperta no homem o desejo de ser guardado em sua casa, em seu coração. Os pescadores chamam seus vizinhos para verem o mistério da Virgem. Não podemos esquecer este mistério de Aparecida. Viver uma fé com o coração e foram irradiando a fé. Precisamos ter uma fé cordial, ou seja, irradiada no coração. A fé cultivada pelo estudo é muito boa, mas não basta. Se tudo começa a ficar muito natural, precisamos nos lembrar que é algo sobrenatural.
A fé precisa ser vivida e não proclamada, celebrada e rezada. Esta fé vivida é uma fé que nos faz ter uma vontade determinada de buscar sem cansaço a intimidade com Deus. Não podemos nos relacionar com Deus a distância. Deus não é um ser longínquo, nem se preocupa com a humanidade em geral, mas quer ter um relacionamento pessoal comigo!
Na Lumem Fidei lemos:
“Como se chega a esta síntese entre o ouvir e o ver? A partir da pessoa concreta de Jesus, que Se vê e escuta. Ele é a Palavra que Se fez carne e cuja glória contemplámos (cf. Jo 1, 14). A luz da fé é a luz de um Rosto, no qual se vê o Pai. De facto, no quarto Evangelho, a verdade que a fé apreende é a manifestação do Pai no Filho, na sua carne e nas suas obras terrenas; verdade essa, que se pode definir como a « vida luminosa » de Jesus. Isto significa que o conhecimento da fé não nos convida a olhar uma verdade puramente interior; a verdade que a fé nos descerra é uma verdade centrada no encontro com Cristo, na contemplação da sua vida, na percepção da sua presença.”
Se não contemplamos começamos a ver só os problemas e começamos a não mais acreditar nem na capacidade de conversão de uma pessoa e isso é muito triste... Jesus não foi capaz de converter um Saulo que respirava o ódio pelo Cristianismo?! Passamos a combater com as pessoas em vez de discordar das suas ideias erradas. Odiar o pecado, mas amar profundamente o pecador. Na organização da JMJ, vimos muitos exemplos. Quantas críticas surgiram de dentro da própria Igreja, porque artistas seculares forma convidados para os atos centrais. O que não sabe nos bastidores são as conversões espantosas que aconteceram!
Um caminho precioso para a fé é a leitura diária dos Evangelhos, como um caminho mesmo para nos encontrarmos, nos aproximarmos do Cristo. O próprio cristo vai nos transformando nele e nos dando a luz que irradia do seu coração. João Paulo II, beato e em breve santo, citado na luz da fé, diz:
“O Beato João Paulo II, na sua carta encíclica Fides et Ratio, mostrou como fé e razão se reforçam mutuamente. Depois de ter encontrado a luz plena do amor de Jesus, descobrimos que havia, em todo o nosso amor, um lampejo daquela luz e compreendemos qual era a sua meta derradeira; e, simultaneamente, o facto de o nosso amor trazer em si uma luz ajuda-nos a ver o caminho do amor rumo à plenitude da doação total do Filho de Deus por nós. Neste movimento circular, a luz da fé ilumina todas as nossas relações humanas, que podem ser vividas em união com o amor e a ternura de Cristo.”
A luz de Cristo nos faz ver que se acreditamos em Deus, devemos acreditar nas pessoas. Se confiamos em Deus, devemos confiar nas pessoas. As pessoas mudam, assim como nós estamos mudando. Estamos todos em processo de conversão. Se nós podemos melhorar, devemos acreditar que as outras pessoas podem mudar também. Não nos tornemos descrentes, porque a descrença leva a uma timidez no nosso apostolado. Não seu a verdade não seja convincente, mas porque julgamos com nossa parca inteligência que certas pessoas não conseguirão acreditar na Verdade.
No Encontro com os voluntários, o papa Francisco confidenciou:
“Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro – eu tinha 17 anos – quando, depois de passar pela igreja de San José de Flores para me confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria! Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará entender o caminho. Como fez o jovem Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote Eli, no final respondeu àquela voz: Senhor, fala eu escuto (cf. 1Sm 3,1-10).”
Depois de confessar-se sentiu o chamado de Deus para o sacerdócio e hoje é o papa! Imagine se ele não tivesse seguido o seu coração neste dia... Há uma pergunta que deveríamos fazer com muita frequência: POR QUE NÃO? Por que não me esforço mais para corresponder à vontade de Deus? Por que não me entrego de corpo e lama ao projeto que deus tem para mim? Por que não falar com este meu amigo sobre este tema tão importante? Por que não convidar aquela pessoa para r se confessar? Por que não dar um livro de formação espiritual para uma pessoa?
Isto é uma tradução da fé escutada e da fé vista. Nos faz questionar um pouco a nossa timidez, as nossas dúvidas, as nossas reservas, e uma palavra forte que precisamos empregar a nós mesmos: a nossa covardia!
Outra madrugada, me liga um jovem em meio a uma crise matrimonial grave. Eu sugeri que ele tirasse uma semana de férias para passear só com a esposa. O jovem disse que seria impossível, porque é um advogado importante na sua empresa e que não poderia perder um caso milionário. Eu respondi: “Você é um covarde!”. Ele me respondeu que jamais poderia ser considerado um covarde porque interpelava promotores agressivos com coragem de leão. Eu repeti: “Você é um covarde, porque não tem coragem para pedir uma semana de férias ao seu chefe para salvar o seu casamento, a sua própria vocação!”.
Jesus pediu para que os apóstolos fossem e ensinassem a todas as nações. É a mesma coragem que faz um homem de 76, já prestes a chegar a sua renúncia, que aceitar ser o papa. A certeza de que Cristo nos envia e vai conosco na missão deve-nos levar a ver, a enxergar seu poder em nossas vidas. “Senhor, aumenta a minha fé.”, como renovastes a fé dos discípulos a caminho de Emaús. “Fica conosco, Senhor.”: foi o pedido que brotou do coração que ardia. Escutar e ver, ver e escutar e assim vamos renovando a nossa fé de um modo pessoal, como quando rezamos o Credo: “Creio...”, na primeira pessoa do singular. A fé é a força da nossa inteligência e do nosso coração.

4ª MEDITAÇÃO
A MATERNIDADE ESPIRITUAL DE NOSSA SENHORA
Ainda no seu discurso em Aparecida, o papa Francisco nos diz:
“... quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste Santuário: «O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro.” (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).
Para que não nos deixemos abater pelo mal e pelas dificuldade e saibamos que Deus sempre nos reserva o melhor, o papa numa simples frase já nos dá uma luz da fé e nos abre uma porta: temos uma mãe, que sempre intercede pela vida dos seus filhos, como a Rainha Ester que intercede pelo seu povo, pela vida do seu povo. Assim, Maria é a esperança para nós. Assumiu sua maternidade espiritual num momento doloroso: “Mulher, eis aí teu filho!” (Jo 19, 26b). E essa maternidade da humanidade inteira só é possível porque estava cheia do Espírito Santo, o mesmo Espírito que a fez mãe sem conhecer homem. A tradição nos ensina que ao dar à luz Jesus, Maria não teve dores, mas ao nos gerar, esta maternidade, sim, foi no meio da dor. Deus quis nos redimir pelo amor, um amor que passou pela dor. Maria trocou um Filho que era o próprio Deus, para assumir os filhos que matavam seu próprio e único Filho.
Na Lumem Fidei, papa Francisco nos diz:
“Quando a fé esmorece, há o risco de esmorecerem também os fundamentos do viver, como advertia o poeta Thomas Sterls Eliot: « Precisais porventura que se vos diga que até aqueles modestos sucessos / que vos permitem ser orgulhosos de uma sociedade educada / dificilmente sobreviveriam à fé, a que devem o seu significado? » Se tiramos a fé em Deus das nossas cidades, enfraquecer-se-á a confiança entre nós, apenas o medo nos manterá unidos, e a estabilidade ficará ameaçada. Afirma a Carta aos Hebreus: « Deus não Se envergonha de ser chamado o "seu Deus", porque preparou para eles uma cidade » (Heb 11, 16). A expressão «não se envergonha» tem conotado um reconhecimento público: pretende-se afirmar que Deus, com o seu agir concreto, confessa publicamente a sua presença entre nós, o seu desejo de tornar firmes as relações entre os homens. Porventura vamos ser nós a envergonhar-nos de chamar a Deus «o nosso Deus»? Seremos por acaso nós a recusar-nos a confessá-Lo como tal na nossa vida pública, a propor a grandeza da vida comum que Ele torna possível? A fé ilumina a vida social: possui uma luz criadora para cada momento novo da história, porque coloca todos os acontecimentos em relação com a origem e o destino de tudo no Pai que nos ama.”.
Nós somos chamados a levar Deus à vida social, política e cultural. A sermos presença assim como Maria era presença no meio dos apóstolos por época do Pentecostes e das primeiras comunidades. No final da Encíclica, o papa faz uma linda oração:
A Maria, Mãe da Igreja e Mãe da nossa fé, nos dirigimos, rezando-Lhe:
Ajudai, ó Mãe, a nossa fé.
Abri o nosso ouvido à Palavra,
para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada.
Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos,
saindo da nossa terra e acolhendo a sua promessa.
Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor,
para podermos tocá-Lo com a fé.
Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele,
a crer no seu amor,
sobretudo nos momentos de tribulação e cruz,
quando a nossa fé é chamada a amadurecer.
Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho.
Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus,
para que Ele seja luz no nosso caminho.
E que esta luz da fé cresça sempre em nós
até chegar aquele dia sem ocaso
que é o próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor.

Vamos também nós nos entregarmos àquela que pode convencer Jesus a transformar água em vinho com uma única petição. Deus criou o mundo sozinho, mas para salvá-lo precisou da ajuda de uma pessoa como Maria, que se abriu com sua fé de cabeça e de coração. Maria não é Deus, mas é um caminho cordial para chegarmos a Deus. Deveríamos desconfiar como é possível chegar a Deus com uma ligação direta, sem mediadores. Por isso, se multiplicam as religiões utilitaristas em cada esquina. Deus veio por uma pessoa e quando deixou o mundo nos deixou com uma pessoa: Maria.
Sua maternidade espiritual deve ser imitada por nós. Ela, como todas as mães nos acolhe antes no coração do que no corpo. Ser mãe não é um fenômeno biológico: antes de ter o filho no corpo é preciso tê-lo no coração. O filho já nasce no coração antes de ser concebido no seio. Nunca devemos deixar de ir ou voltar para Jesus, deixando de lado o amor filial a Nossa Senhora. Maria não delegam esta maternidade. Maria não tem baby sitter. Às vezes as mães delegam sua tarefa educativa e amorosa às tecnologias, às babás, às escolas. Maria vive plenamente a experiência de ser mãe.
E como é sua maternidade? Ela dá o melhor de si. No folheto da missa de hoje, rezamos a primeira oração dirigida de forma coletiva à Maria. Ela é do século II: “À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!”.
Outra linda oração é o Recordare, na qual pedimos que Maria fale bem de nós para Deus. Que tranquilidade nos dá saber que tem alguém falando bem de nós... Ela é nossa advogada de defesa. Ad-vocatus: aquele que é chamado para fazer a defesa. A vocação de Maria é dar o melhor de si para nos proteger. Maria é mãe porque Cristo lhe confiou a Igreja. A nossa mãe nos ensina a viver o que o seu Filho viveu. Ajuda-nos a nos identificarmos com o Cristo que não veio para ser servido, mas para servir, nem veio para os sãos, mas para os pecadores. Nossa Senhora nos impele a vencermos a barreira do individualismo, a vivermos para os outros.
O Papa não está mudando a doutrina, mas está dando ênfase ao que é o mais fundamental da doutrina católica. Por isso, é que ele fala tanto que precisamos mudar o nosso jeito pastoral para mostrarmos o rosto da Igreja como mãe. Temos que cuidar das pessoas como feridos de guerra. Não podemos impor o oitavo sacramento da “burocracia”, do formalismo que impede as pessoas de se aproximarem de Deus. Uma mãe não se guia por regras, mas por amor.
Há um hino também dos primeiros séculos, Stela Maris que vale a pena recordar:
Ave, do mar Estrela,
Bendita Mãe de Deus,
Fecunda e sempre Virgem,
Portal feliz dos Céus.
Ouvindo aquele Ave
Do anjo Gabriel, Mudando
de Eva o nome,
Trazei-nos Paz do Céu.
Ao cego iluminai,
Ao réu livrai também;
De todo mal guardai-nos
E dai-nos todo o bem.
Mostrai ser nossa Mãe,
Levando a nossa voz
A Quem, por nós nascido,
Dignou-se vir de vós.
Suave mais que todas,
Ó Virgem sem igual,
Fazei-nos mansos, puros,
Guardai-nos contra o mal.
Oh!, dai-nos vida pura
Guiai-nos para a Luz,
E um dia, ao vosso lado,
Possamos ver Jesus.
Louvor a Deus, o Pai,
E ao Filho, Sumo Bem,
Com Seu Divino Espírito
Agora e sempre, Amém.

Essas orações e devoções devem deixar em nós um sulco, um rastro profundo de que, quem vai com Maria, vai na direção certa, pois não existem um coração mais transbordante de fé, de esperança e de amor. E pessoas assim se tornam modelos e transformadores da História. Maria nos ensina as coisas mais tocantes. Lembremos da devoção do papa, olhando, contemplando a imagem de Nossa Senhora Aparecida, seu semblante se transformava. Devemos perguntar-nos constantemente se queremos ser bons filhos, como Jesus foi um bom Filho para sua mãe, Maria. Depois do amor filial ao Pai, vinha o amor filial de Jesus por sua mãe. Deus se deixou proteger e ensinar.

sábado, 12 de outubro de 2013

Retiro Arquidiocesano (12-10-13)

2ª MEDITAÇÃO (12/10/13)

Os quatro passos que vimos ontem estão pautados no tema do nosso retiro: a fé. Em outubro de 2012, Bento XVI nos escreveu uma carta com o título sugestivo: A Porta da Fé. E dizia naquela ocasião: “A porta da fé está sempre aberta para nós.”. O papa emérito nos recordou que a porta da fé, sua intimidade foi-nos colocada com livre acesso para que pudéssemos nos encontrar com ele. Bento XVI dizia que toda razão de ser do seu ministério tinha um objetivo: fazer brilhar com evidência sempre maior a alegria e o entusiasmo do encontro com Cristo. Quando entramos por esta porta da fé, quando somos homens e mulheres de fé, não acontece em nós algo abstrato ou só no plano teórico. Ao entrarmos neste caminho da fé, encontramos a alegria e o entusiasmo de termos a amizade de Cristo, de vivermos de acordo com nosso nome de cristãos.
E o papa Francisco, em 29 de junho, pouco antes de vir para o Brasil, divulgou a Luz da Fé. Uma porta e uma luz. Ultimamente, aqueles que parecem querer dominar e impor a cultura, se empenham em nos convencer que esta porta está fechada e que a luz, na verdade, é escuridão. Nos ensinam que esta porta e esta fé foram úteis numa época em que o homem era menos esclarecido e o mundo menos desenvolvido. Dizem que hoje a fé é um obstáculo para você ser feliz. É um impedimento para você abrir sua cabeça e viver as aventuras da vida! Hoje vale o que diz a ciência, a cultura. O mínimo que se permite é que a fé seja um vago sentimento de consolação... quando não há explicações, podemos dizer, resignados: “É vontade de Deus...”. Quais são as consequências deste modo de pensar?
Devemos refletir como vai a nossa fé. Uma fé morna ou uma fé teórica gera na vida das pessoas confusão. Começam a não mais distinguir entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Nos faz girar em torno de um círculo vicioso do individualismo e do hedonismo que são como que um labirinto, do qual não conseguimos mais sair.
Na Lumem Fidei, é citada como que um Best Seller dos primeiros tempos do Cristianismo, chamado Ata dos Mártires. Estes que tiveram uma vida exemplar (Estevão, Águeda, Luzia, Inês, Cecília, Anastácia, etc...). “A convicção duma fé que faz grande e plena a vida, centrada em Cristo e na força da sua graça, animava a missão dos primeiros cristãos. Nas Atas dos Mártires, lemos este diálogo entre o prefeito romano Rústico e o cristão Hierax: « Onde estão os teus pais? » — perguntava o juiz ao mártir; este respondeu: « O nosso verdadeiro pai é Cristo, e nossa mãe a fé n’Ele ». Para aqueles cristãos, a fé, enquanto encontro com o Deus vivo que Se manifestou em Cristo, era uma « mãe », porque os fazia vir à luz, gerava neles a vida divina, uma nova experiência, uma visão luminosa da existência, pela qual estavam prontos a dar testemunho público até ao fim.” Foi a fé a mãe que nos gerou para a vida com Deus e que nos alimenta com os sacramentos e nos acompanha em todos os momentos de nossa vida. Esta fé a mãe que desperta em nós o amor.
Ainda na Porta Fidei, Bento XVI escrevia: “Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria..” A fé nos faz ser filhos e também é geradora, porque nos torna fecundos, gerando vida nova para nós e para os outros.
Em 2017, comemoraremos os 300 anos da imagem de Aparecida achada no rio. Disse o papa Francisco fez uma leitura de Aparecida que pode ser uma leitura da nossa vida: “A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus!” Em Aparecida, Deus nos deu sua própria mãe. Veio de forma simples, numa humildade própria de Deus. A humildade é o DNA de Deus. Vemos algo para aprender sobre Deus e a Igreja em Aparecida. Na busca de pobres pescadores, que buscavam suprir a fome, a partir de poucos recursos, de um barco frágil e instrumentos inadequado, depois do cansaço da pesca e o resultado escasso, insucesso. As redes estão vazias. Buscamos tantas coisas em nossas vidas, estamos sempre buscando coisas boas. Mas nossa fragilidade humana é como este barco: tudo é insuficiente, não tenho tempo, não tenho dinheiro, não tenho poder...
Continua o papa: “Depois, quando foi da vontade de Deus, comparece Ele com o seu mistério.... chegou de surpresa. Uma imagem de barco frágil... Deus vem sempre nas vestes da pequenez.”. Isso não é só bonito, é real! “Vem então a imagem da Imaculada Conceição e com ela a unificação de corpo e da cabeça e retoma a unidade perdida.” “O Brasil colonial era dividido pelo muro vergonhoso da escravidão. Maria vem com a face negra. É um ensinamento que Deus nos quer oferecer da escuridão do rio: recomposição fraturado, compactação do dividido. A Igreja não pode descuidar desta lição. De ser instrumento de reconciliação.” A fé quando vivida como experiência de amor nos faz ser instrumentos de reconciliação e reconstrução.
Ás vezes não mesmos nos perdemos em labirintos porque perdemos de vista o rosto da nossa mãe. “Feliz o homem que tendo pedido tudo na sua vida, não perdeu o interesse pela casa da sua mãe.”. Costumo pensar muito nesta frase que ouvi uma vez. A mãe sempre vai nos ouvir, consolar e animar. A fé é a nossa mãe. Não é só um conjunto de verdades que nos cabe conhecer e tentar a adaptar a ela a nossa vida. A fé é nossa mãe! E para com ela há duas atitudes, indicadas na Lumem Fidei, que se destacam: escutar a mãe e contemplá-la. A carta se inspira na Bíblia: "Justamente porque o conhecimento da fé está ligado à aliança de um Deus fiel, que estabelece uma relação de amor com o homem e lhe dirige a Palavra, é apresentado pela Bíblia como escuta, aparece associado com o ouvido. São Paulo usará uma fórmula que se tornou clássica: « fides ex auditu — a fé vem da escuta » (Rm 10, 17)... " Além disso, a fé é conhecimento ligado ao transcorrer do tempo que a palavra necessita para ser explicitada: é conhecimento que só se aprende num percurso de seguimento. A escuta ajuda a identificar bem o nexo entre conhecimento e amor.”
Quantas pessoas pararam no tempo e ficaram com a fé da Primeira Comunhão. Será que não crescemos na fé assim como crescemos na vida? Temos escutado nossa mãe? Escuto a fé na minha vida diária? Inspiro-me na Palavra de Deus e na minha consciência para tomar decisões vitais? Em Aparecida, o Papa Francisco nos lembrou que a fé veio por uns pecadores humildes, por uma imagem com corpo e depois a cabeça... E hoje, quanta gente viaja tantos quilômetros só para passar e ficar uns segundos em frente àquela imagem... só contemplando... O que será que se passa na mente daquelas pessoas? Eu já tinha pensado que a fé é a luz e a porta da minha vida? Lembremos daquele jovem mártir que disse sem temos que seu Pai era Cristo e sua mãe era a fé! Eu tenho uma mãe que me gera, me acolhe e me alimenta: é a minha fé católica.
 
1a PALESTRA
 
A FAMÍLIA PROMOTORA DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL
 
A família é a célula vital da sociedade. Muitos acham que a sociedade de hoje está destruindo a família, mas não é verdade. A família é que, se deteriorando, deteriora a sociedade. A família é uma instituição valorizada e querida pela sociedade. Segundo uma enquete mundial de valores realidade entre 2005 e 2008 com entrevistados em 51 países 89,7% dos entrevistados colocaram a família em primeiro lugar, acima do trabalho e da religião.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, art. 16, inc. 3, diz: “3.A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado.” Um Estado que não legisla em favor da família é como uma doença autoimune: ele se destrói. A família não é só algo religioso, mas natural. A própria sociedade então deve ter o dever de proteger a família.
No congresso nacional brasileiro, por exemplo, existem atualmente 647 projetos de lei para destruir a família.
 
O diagnóstico da situação
Vemos o esvaziamento do conceito de matrimônio e a palavra família sendo usada de uma forma ambígua. E quais fontes para se conseguir este efeito: as leis e as fontes de educação. Como os pais são os primeiros responsáveis e educadores de seus filhos é preciso prestar atenção a que conceitos de família estão sendo ensinados na escola.
É uma sociedade que proclama e amplia direitos e não considera os deveres. Promove-se a primazia do lado afetivo com um conceito de compromisso fluido e parcial, afirmando que o compromisso por toda vida é apenas uma utopia. Muitos não acreditam mais que é possível assumir um compromisso com o marido/ esposa, filhos e outras situações para sempre e não apenas por um período. Vivemos, como disse o papa Francisco, na cultura do descartável. Hoje em dia, ensina-se que o casamento é um mero contrato que pode ser revogado a qualquer momento por vontade das partes.
Alguns dados de pesquisa do Instituto para o Matrimônio e a Família ao redor do mundo:
- A população está envelhecendo
- A taxa de natalidade decresce
- A taxa de casamentos também
- Os números de divorcia aumentam assim como a tendência a uniões sucessivas - Aumento das uniões de fato
- Os filhos nascidos fora do matrimônio já são em maior número do que os filhos nascidos dentro do matrimônio
 
Desafio: dar novas razões
Querem ridicularizar a família dizendo que é um conceito imposto pela religião. É preciso demonstrar que o futuro da sociedade passa através da renovação das funções sociais da família. Estas funções não são contingentes, ocasionais, e seu valor não se reduz às prestações de serviço que ela oferece. Expressão a necessidade que a família não é um mero grupo social, mas a instituição social primária sem a qual é pouco provável que uma sociedade se desenvolva. É preciso redefinir a família no horizonte do seu ser, e dar espaço para que ela haja em sua identidade.
Mas... que se entende por família? De que família estamos falando? Com que família estamos trabalhando enquanto agentes de pastoral? Que estrutura define uma família? Que eixo organizativo define todas as dinâmicas da família?
Há cinco aspectos a caracterizam:
- Tem quem a encabece - É um marco normativo de direitos e obrigações, que surge do estado civil das pessoas que a encabeçam
- Há um tipo de vínculo entre as pessoas que a encabeçam
- Há um vínculo legal de consanguinidade entre essas pessoas e as gerações seguintes
- Relação do núcleo familiar com outras pessoas dentro de um mesmo lar Família, famílias, modelos de família...
A Semântica da pluralidade acaba trazendo um problema de linguagem
- metáfora (similitude) – por exemplo, posso falar na família tricolor para me referir a um grupo de pessoas que se identificam com um time. Mas qualquer pessoa sabe que não se tratam de pessoas com laços de sangue e amor e com todas aquelas características que forma mencionadas. É só uma comparação.
- Analogia (semelhança) – é o que se tenta fazer, chamando de família a qualquer relação afetiva.
O maior isso de analogias e metáforas no campo da família nos leva a distinguir:
- As relações propriamente familiares: que se caracterizam pela capacidade e possibilidade de manter e renegociar as relações de intercâmbio e sexo entre as gerações.
- As relações que surgem de estilos de vida caracterizados por tendência ao individualismo e a privatização das relações interpessoais como o âmbito primário familiar em sentido metafórico.
A revolução do século XXI é ignorar que haja um padrão ou uma estrutura latente do que seja a família. Isso, entretanto, não passa de uma ignorância.
Qual é o genoma da família? Seu padrão ou estrutura latente?
- Dom – amor oblativo em que se reconhece o valor do outro como cônjuge/ filho(a), como um presente para mim.
- Reciprocidade – com quem se está relacionando no vínculo familiar, sem contrato e sem empréstimo.
- Sexualidade – intimidade sexual entre aqueles que se amam com amor esponsal, em que um enrique o outro com algo que ele não possui. A mulher enriquece o homem com sua feminilidade e o homem enriquece a mulher com sua masculinidade.
- Generatividade – filhos: fruto de uma relação que expressa o bem comum do casal e não na autorealização.
 
Quando vemos muitos tipos diferentes de família é porque alguns dos elementos deste genoma pode desligar-se com maior facilidade. Em todos os casos a relação familiar existe de forma incompleta. Entre os entraves relacionais que conectam elementos e relações, exemplo a mulher que doa ao filho mas se negam ao cônjuge.
Seriam válidas estas novas formas de família? Teriam sua validade em critérios empíricos?
- Sua vitalidade interna (capacidade de regenerar-se)
- Capacidade de responder às expectativas da sociedade (capacidade de socialização, controle e responsabilidade para com os filhos, sustentar as relações com mútua ajuda com o(a) parceiro(a)...) Quais são as funções sociais da família?
- Equidade geracional: corresponsabilidade intergeneracional. Somos responsáveis por cuidarmos uns dos outros: pelos de cima, de baixo e dos lados. Quem cuida das crianças? O sistema de educação pública? Quem cuida dos idosos? O INSS? Quem cuida dos doentes? A saúde pública? Não! A família!
- Transmissão cultural: educa na língua, na higiene, nos costumes, nas crenças, nas relações socialmente legitimadas e no trabalho.
- Socialização: prover os conhecimentos habilidades e relacionamentos que permite que uma pessoa viva a experiência de pertença a um grupo social mais amplo. Lá se aprendem os limites e alcances do público e do privado.
- Controle social: a família introduz a pessoa que a constituem no compromisso com normas justas, com o cumprimento de responsabilidades e obrigações, om a busca não só do prazer mas também do bens árdua que exigem esforço, constância, disciplina, sobretudo através do papel do pai.
- Afirmação da pessoa por si mesma: caráter suprautilitário das pessoas e sua importância baseada na sua própria dignidade.
Portanto, a família é geradora de virtudes sociais. É constituída por seres humanos e não números. Que outra instituição se preocupa verdadeiramente pelo indivíduo em si? Só pelo grupo a que pertence: os gays, os médicos, os black blocs... Só em casa, na família é que se preocupa com o ser humano, concreto e real.
 
Perda das virtude sociais por causa da privatização da família
A família é a primeira vítima dessa perda dos valores sociais. Deve-se imputar aos processos de comercialização da vida social que privatizam as famílias. E as virtudes vão sendo geradas no Congresso, na Câmara... Sistemas sociais que operam com métodos e regras que impedem as famílias de serem virtuosas. Sistemas políticos, quando acabam com a competência educativa das famílias, sistemas econômicos quando impõe aos pais horários de trabalho incompatíveis com a família. Sistemas jurídicos quando radicalizam os direitos do indivíduo puro sem relacionamentos cancelando os direitos de solidariedade entre as famílias.